O conflito na Ucrânia começou cedo nesta quinta-feira (24). Por volta das 5h (horário local de Moscou, meia-noite no Brasil), o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a operação militar de invasão ao país vizinho.
Inicialmente, a expectativa era de que os ataques ficassem restritos às duas regiões reconhecidas por ele como independentes na última segunda-feira (21): Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. No entanto, ao longo do dia, a realidade foi de explosões em diferentes regiões ucranianas, inclusive a capital, Kiev.
Segundo afirmaram os guardas de fronteira ucranianos, forças russas entraram na região do norte de Kiev a partir de Belarus para executar um ataque com mísseis Grad contra alvos militares. O ataque terrestre teria partido do posto de controle de Vilcha, cerca de 150 quilômetros ao norte da capital ucraniana.
Com o barulho de bombardeios, milhares de pessoas tentaram deixar Kiev ao longo do dia. Ao amanhecer, com o ressoar das primeiras sirenes de alerta nos alto-falantes da capital do país, as avenidas foram tomadas de carros com famílias inteiras que tentavam deixar a cidade e seguir para a direção oeste ou para áreas rurais, distantes da fronteira com a Rússia.
Em Odessa, ao sul da Ucrânia, 18 pessoas morreram em um bombardeio contra uma base militar de uma localidade próxima ao porto da cidade. Este foi o ataque mais violento registrado no dia, que, conforme autoridades ucranianas, contabilizam 50 mortos no país, incluindo 10 civis.
Uma das ofensivas russas nesta quinta-feira foi na cidade de Pripyat, onde funcionava a antiga usina de Chernobyl, onde ocorreu o pior acidente nuclear da história, em 1986. No Twitter, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, revelou que forças russas estavam tentando tomar Chernobyl e que os soldados ucranianos estavam “sacrificando suas vidas para que a tragédia de 1986 não aconteça novamente”. Mais tarde, o conselheiro-chefe do gabinete do presidente, Mikhailo Podoliak, afirmou que a Rússia havia tomado o local.
O presidente ucraniano também foi às redes sociais anunciar que o país rompeu suas relações diplomáticas com a Rússia e que proverá armas a todos os moradores que quiserem. O líder do país afirmou que os russos “traiçoeiramente” atacaram o território vizinho, “como fez a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial”.
Sanções à Rússia
A reação internacional ocorreu de forma contundente ao longo de toda a quinta-feira. Membros da Organização das Nações Unidas (ONU), da União Europeia e de países como China, França, Alemanha e Reino Unido reagiram à invasão, seja condenando ou pedindo moderação.
O secretário-geral Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, prometeu que a Rússia pagará um “pesado preço econômico e político” pelo ataque e que fará “tudo o que for necessário para proteger e defender todos os aliados”. Até mesmo o papa Francisco fez um apelo para que líderes envolvidos na crise da Ucrânia desistam do conflito.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que o G7 ampliará as sanções ao governo russo, limitando a capacidade de o país fazer negócios em dólares, libras, euros e ienes. Com isso, o entendimento é de que será limitada a capacidade da Rússia de competir na tecnologia avançada e financiar as forças armadas locais. Bancos russos também estão tendo suas operações bloqueadas nos EUA.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou sanções a 58 pessoas e entidades russas. A penalização visa membros da elite russa e suas famílias, o grupo Wagner, uma empresa militar privada, e os bancos russos. Trudeau também disse que estava estava cancelando as permissões de exportação para a Rússia, o que representa cerca de 700 milhões de dólares canadenses (cerca de R$ 2,8 bilhões) em bens, principalmente nos setores aeroespacial, tecnologia da informação e mineração.
Em diferentes partes do mundo protestos foram organizados como reação contra a guerra. Na Rússia, a polícia ameaçou com “consequências” quem participasse de comícios de rua e chamadas para protestos pró-Ucrânia pela internet. O Ministério da Administração Interna anunciou que iria deter participantes em ações não autorizadas por ações provocativas ou agressivas contra policiais.
Com a crise, as bolsas europeias caíram acentuadamente desde as primeiras horas do dia. O preço do barril de petróleo ultrapassou os US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos e os estoques mundiais caíram.
Reação brasileira
No Brasil, a resposta das autoridades veio a conta-gotas ao longo do dia. O primeiro do alto escalão a se pronunciar foi o vice-presidente Hamilton Mourão, que afirmou que não concorda com a atitude russa e que o país “não está neutro” em relação ao assunto.
Depois, o Itamaraty divulgou nota informando que o governo “acompanha com grave preocupação” a situação e “apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática”.
O presidente Jair Bolsonaro publicou em seu Twitter às 15h51min um post dizendo que está “totalmente empenhado” no esforço de proteger e auxiliar os brasileiros que estão na Ucrânia e que a embaixada em Kiev segue aberta para auxiliar os cerca de 500 cidadãos brasileiros que vivem no país e os demais que estiverem por lá temporariamente.
A embaixada do Brasil no país, por sua vez, orientou que os brasileiros em Kiev encontrem um local seguro e não saiam da cidade, devido aos “grandes engarrafamentos”. Prometeu, ainda, novas instruções em breve.
Postado por Paulo Marques