A morte do menino Henry Borel, de 4 anos, e a prisão de Dr. Jairinho, vereador do Rio de Janeiro, e da mãe da criança, Monique Medeiros, acusados de torturar e matar a criança, causa reações na sociedade por mostrar até que ponto pode vai à irracionalidade humana. A avaliação é do neurocientista Fabiano de Abreu.
Henry chegou morto a um hospital da Zona Oeste do Rio na madrugada do dia 8 de março, com hemorragia e edemas pelo corpo. As investigações concluíram que Dr. Jairinho agredia o menino com chutes e golpes na cabeça e chegaram a falar em tortura. Segundo a polícia, a mãe do garoto sabia disso pelo menos desde fevereiro.
Em entrevista à Rádio Colonial na manhã desta terça-feira (20/02), Abreu explicou que, embora seja complicado chegar a uma conclusão sobre o que o padrasto e a mãe do menino possuem como transtornos mentais, acompanhando o caso a distância. Para comprovar isso, segundo ele, seria preciso analisá-los devidamente e elaborar um laudo técnico.
Porém, pelas informações já divulgadas na imprensa, ele afirmou que o Dr. Jairinho demonstra claramente psicopatia, isto é, ele não sente remorso ou arrependimento pelo sofrimento que pode vir a causar a outras pessoas, isto estaria relacionado ao não funcionamento adequado do sistema límbico, que é a estrutura cerebral responsável pelas emoções.
Além disso, o modo como o médico e vereador torturava o garoto demonstra que ele é sádico, ou seja, ele sentia prazer com o sofrimento alheio. Segundo o neurocientista, essa perversão pode ter relação com a própria infância do Dr. Jairinho, mas isto só poderia ser comprovado mediante muitas sessões de psicanálise.
Já a partir do que se sabe sobre o comportamento da mãe do menino Henry, a professora Monique, o neurocientista explica que tudo aponta para um quadro de narcisismo, relacionado a liberação da dopamina, que é o neurotransmissor da recompensa, no cérebro dela. Isto significa que o que contava para a professora Monique era a questão financeira , assim ela poderia comprar os produtos que precisava para ficar mais bonita. Isto pode estar relacionado ao gatilho derivado de uma infância com limitações financeiras de alguém que queria ter mais, mas não teve.
Quando ela ela conseguiu uma situação de vida melhor, essa busca pela beleza física se tornou um vício porque a dopamina veio em dosagem tão gratificante que ela, provavelmente, se tornou dependente da libração da dopamina e isso levou a ansiedade, transformando-se em uma disfunção em relação a outros hormônios, que acabariam tirando a capacidade de raciocinar dela.
Nada disso justifica o bárbaro crime cometido contra o menino Henry, mas ajuda a compreender a complexidade da mente humana.
Em meio à pandemia e ao isolamento social, os registros de violência física, sexual e psicológica contra as crianças aumentaram exponencialmente em vários países, o que parece contraditório, já que a maior parte está em casa, local em que, teoricamente, estariam protegidas. O estresse advindo da crise financeira, as inseguranças sobre a moléstia e o confinamento entre crianças e adultos, na maioria das vezes em pequenos espaços e sem possibilidades de lazer, seriam a razão do aumento da violência.
Segundo levantamento realizado pelo Ministério da Saúde, em quase 40% dos casos de violência sexual, o agressor tem parentesco com a vítima.
Por outro lado, importante destacar que nem mesmo o impacto socioeconômico decorrente da pandemia pode ser justificativa para qualquer tipo de violência contra as crianças e os adolescentes. As famílias precisam estar atentas à saúde mental dos pequenos e auxiliar no processo de conforto, eliminando qualquer tipo de agressão. E mais: o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei nº 8069/90, impõe o dever de proteção a estes vulneráveis por toda a sociedade.