Um bebê de apenas três meses com uma malformação rara mobilizou médicos de seis estados do país para uma cirurgia em Porto Alegre. Bernardo da Silva Lucindo nasceu com um defeito congênito que deixa a bexiga e a uretra expostas.
O procedimento, que utilizou uma técnica inédita no estado, foi realizado no último sábado (11) no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV).
A cirurgia, feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), durou oito horas e envolveu cirurgiões do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Paraná (PR), Distrito Federal (DF), Santa Catarina (SC), além do Rio Grande do Sul (RS). De acordo com o hospital, o bebê passa bem e está em recuperação na UTI.
A extrofia de bexiga, como é chamada a doença, costuma atingir principalmente meninos. O órgão fica à mostra no abdome, e a uretra, no pênis do portador.
O paciente deve passar por cirurgia o mais cedo possível para facilitar o fechamento da bexiga, a reconstrução da uretra, e a preservação dos rins e da função sexual.
O cirurgião pediátrico do HMIPV Eduardo Corrêa Costa, que participou do procedimento, explica que a união dos médicos foi necessária justamente porque se tratava de um caso raro e de uma cirurgia complexa, delicada e longa.
"Por não ser frequente, a gente não tem uma constância em atender esse tipo de malformação, não é o corriqueiro. Aqui em Porto Alegre, tem uns três casos por ano, no máximo. Por ser uma formação rara, a gente resolveu se reunir para fazer essa cirurgia", justifica o médico.
Costa acrescenta que tem viajado a outros estados para operar pacientes com a doença, com esse mesmo grupo de cirurgiões. A operação já foi realizada duas vezes no RJ, duas em SP e uma na Bahia. Pela primeira vez, foi feita na capital gaúcha.
O cirurgião explica que a técnica utilizada é inédita no estado. Trata-se de uma modificação de uma técnica antiga que possibilita reunir em uma só etapa todas as correções necessárias.
"Além de corrigir essa malformação desse paciente, a gente já corrige outras coisas que ele tem. A gente corrige a incontinência dessas crianças e o refluxo que causa infecção urinária e pode fazer com que o paciente perca a função renal", explica o médico.
'Susto imenso', diz mãe
A descoberta da gravidez, no ano passado, já havia surpreendido os pais de Bernardo. Franciele da Silva, de 32 anos, e o marido não planejavam ter um bebê naquele momento. A notícia mais inesperada, no entanto, chegaria nove meses depois.
"Quando o Bernardo nasceu, a gente descobriu. Foi um susto imenso. A gente ficou bem apavorado na hora, achamos que fosse grave, conta a mãe.
Os exames que antecederam o parto não foram suficientes para apontar que Bernardo teria uma extrofia de bexiga. "A gente fez o pré-natal, o médico só dizia que o 'pintinho' do bebê não se desenvolvia", lembra Franciele.
Bebê de Rio Grande passa por tratamento em Porto Alegre — Foto: Arquivo Pessoal
Após tomar conhecimento da doença do filho, o casal de Rio Grande, no Sul do estado, precisou se mudar, provisoriamente, para a Capital. A rotina de Franciele mudou muito nos últimos três meses. Autônoma, ela parou de trabalhar para acompanhar o tratamento do filho. O marido tirou férias para poder viajar a Porto Alegre.
Bernardo ainda não tem data para deixar o hospital. Até lá, os pais são autorizados a visitá-lo diariamente na UTI Pediátrica.
"No mesmo dia que terminou a cirurgia, nós subimos lá pra ver ele", conta a mãe. "Já deu tudo certo, a cirurgia foi um sucesso, a princípio está tudo bem. A gente está passando 'uma barra', mas depois que essa tempestade passar vai ser só alegria", projeta, otimista.
Postado por Paulo Marques