Morreu neste sábado (23) o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Rivaci Sperotto, aos 79 anos. O líder ruralista, que estava há duas décadas à frente da entidade, lutava contra um câncer de esôfago desde 2016. Ele deixa a mulher, Mariana, quatro filhos e netos.
De personalidade forte e conhecido pela voz tonitruante, Sperotto estava no sétimo mandato seguido como presidente da Farsul, cargo que assumiu em 1997. Antes, de 1991 a 1997, havia sido diretor financeiro da entidade. Ocupava ainda, pela terceira vez, a presidência do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS) e era vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Sperotto nasceu em Palmeira das Missões, no noroeste gaúcho. Viveu na Fazenda Cascata, da família — hoje em Santo Augusto, mas que à época pertencia a Palmeira — até os oito anos. Depois, foi mandado para o internato dos irmãos maristas em Santa Maria. Permaneceu por lá cinco anos, até ser enviado com outros três irmãos para Porto Alegre. Na Capital, terminou então Ensino Médio no Colégio das Dores e se formou em Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1962, quando também se casou com Mariana. O casal teve os filhos Carlos Eduardo, Marlowa, Alexandre e Rafael.
O pai de Sperotto, Francisco, era comerciante de mulas na primeira metade do século passado. Fez bom patrimônio nas tropeadas entre o Rio Grande do Sul e São Paulo e, depois, com um armazém de atacado. Com o capital, adquiriu terras. Ao se formar, Sperotto foi para Ijuí, onde o pai morava, para ser professor na área de produção animal no Instituto Municipal Assis Brasil. Dois anos antes de morrer, o pai decidiu, em 1965, partilhar o campo. Aos 27 anos, Sperotto começava a tocar por conta própria uma propriedade rural, a Fazenda Tapera, em Santo Augusto, hoje administrada por filhos.
Começou com a pecuária de corte. Passou para a produção de leite. Como as áreas não eram boas para a produção animal, decidiu trilhar o caminho da agricultura, atividade mantida até hoje, com produção de grãos, grande parte em áreas irrigadas. Milho, soja e trigo são as principais culturas da propriedade, embora mantivesse criação de ovinos de carne e pecuária leiteira.
No comando da Farsul, federação da agricultura mais antiga do país, protagonizou episódios marcados por tensão na luta por interesses dos ruralistas gaúchos. Nos primeiros anos, os embates mais fortes eram com o MST, devido ao período de recrudescimento das invasões de propriedades, e pela regulamentação do plantio de soja transgênica, tecnologia que começou a ganhar o Brasil pelo Rio Grande do Sul. As constantes negociações com Brasília para repactuar dívidas de produtores também foram passagens marcantes de sua trajetória de dirigente de classe quando ainda atuava na área financeira da Farsul.
Polêmico, era visto como truculento pelos desafetos, mas considerado dinâmico e determinado pelos aliados. No espectro político, considerava-se de centro-direita. Por isso, ideias ligadas à esquerda eram combatidas com opiniões, discursos e ações contundentes. Mesmo assim, admitia que um dos seus maiores prazeres era degustar charutos cubanos da grife Cohiba, marca criada pelo ditador cubano Fidel Castro.
Em sua atuação no setor rural, foi ainda criador do Programa Nacional de Tipificação de Carcaças Ovinas, fundador e presidente da Federação Brasileira de Criadores de Ovinos Carne (Febrocarne), presidente da Associação Brasileira de Criadores de Texel (Brastexel), conselheiro da Cotrijuí e diretor dos sindicatos rurais de Santo Augusto e Ijuí.
Era também representante da CNA na Federações das Associações Rurais do Mercosul, conhecida como Grupo Farm, e membro de diversos grupos técnicos e setoriais ligados à agripecuária.
Postado por Paulo Marques