A Operação Serenata de Amor, uma plataforma de tecnologia que usa inteligência artificial para auditar contas públicas e combater gastos suspeitos – mesmo que sejam gastos considerados irrisórios - tem tornado público gastos suspeitos de deputados federais. O projeto, financiado por uma vaquinha eletrônica, iniciou suas atividades em novembro de 2016, analisando dados da Cota para Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap), que presenteia os 513 deputados e 81 senadores com uma verba adicional aos salários para custeio de atividades legislativas, incluindo alimentação, aluguel de carros, passagens aéreas e outros itens. O valor varia de estado para estado – no caso do Rio Grande do Sul, a cota máxima para deputados está fixada em R$ 40.875,90 por mês. As informações são do site www.extraclasse.com.br.
“São despesas que por si só não mereciam ressarcimento, devido à natureza evidentemente irregular. Mas a Câmara paga. Então, nosso objetivo, com a divulgação das prestações de contas no Twitter, é bater tanto no mindinho deles [parlamentares] que não tenham outra saída a não ser devolver os valores”, diz Felipe Benites Cabral, porta-voz do projeto Serenata de Amor. O grupo conta com 500 voluntários que alimentam o robô com dados disponíveis nos portais públicos, garantidos desde 2011 pela Lei de Acesso à Informação. O robô, então, é programado para cruzar dados e rastrear informações com problemas, como notas com CNPJ ou CPF inválidos, pagamentos feitos em locais muito distantes em um curto período de tempo, preços de refeições discrepantes, gastos com bebidas alcoólicas, viagens ao exterior e presença em plenário.
Um frequentador assíduo das postagens do robô Rosie é o deputado Darcísio Perondi (PMDB), com 34 reembolsos suspeitos flagrados desde maio. Nos 4.296 reembolsos do parlamentar desde 2009, também há fartura de despesas com choperias, churrascarias, cantinas e hotéis. Há, ainda, oito pagamentos consecutivos e do mesmo valor à empresa do jornalista Edgar Lisboa, colunista do Jornal do Comércio, de Porto Alegre. Os pagamentos, a título de “divulgação de atividade parlamentar em rádio e TV e gravações de áudio”, iniciaram em outubro de 2016 (para serviços prestados em setembro daquele ano) e seguiram até maio deste ano. O valor mensal da fatura foi de R$ 5.874,00, o que totaliza R$ 46.992,00 no período. Mesmo que o parlamentar tenha uma equipe de imprensa vinculada a seu gabinete e paga com recursos da Câmara, Perondi recebeu de volta cada centavo gasto com a assessoria externa.
Pela nota fiscal, este seria o endereço da consultoria O&K, à qual o deputado Darcísio Perondi, linha de frente da tropa de choque de Temer, pagou R$ 136,8 mil por serviços de lobby. Perondi é um dos recordistas no país em contratação de consultorias. Desde 2009, o deputado recebeu 131 reembolsos por serviços de produção de informação, análises, agendamento de reuniões com entidades empresariais e estudos setoriais para embasar sua atuação parlamentar. Em bom português, lobby. A campeã de contratação pelo deputado é a consultoria Conde & Dell Aringa, uma empresa com sede em Santos (SP) e que recebeu 83 pagamentos de Perondi entre 2009 e 2017. Os pagamentos, todos devolvidos ao deputado pela Câmara, variaram de R$ 150,00 a R$ 8 mil – alguns depositados no mesmo dia.
Em nota, Perondi relativizou as acusações. “Sou um deputado que trabalha muito, o que é público e notório”, ironizou, sem explicar o grande volume de despesas com choperias, churrascarias, cantinas e hotéis, e compra de “coberturas” favoráveis em jornal. Sobre a gastança com consultorias, alegou apenas que a Câmara “permite que haja contratação de consultorias e assessorias técnicas” e cofirmou: “tenho, sim, consultorias e assessorias que me qualificam como parlamentar”. Perondi desconversa: “tudo está no portal da transparência da Câmara dos Deputados”.