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Entenda o fenômeno que causou temporal em Giruá

Entenda o fenômeno que causou temporal em Giruá
Reprodução/Redes Sociais
  • 16/11/2023 - 17:00

Tempestades severas de vento e granizo atingiram o Sul do Brasil no final da quarta-feira (15/11) e nas primeiras horas desta quinta (16/11). O episódio mais grave se deu no município de Giruá, onde um temporal violento deixou muita destruição e provocou uma morte e em torno de 60 pessoas feridas. De acordo com a MetSul Meteorologia, o sistema responsável pelos temporais tem um nome pouco conhecido do público, mas que é sabido e estudado há muito tempo por meteorologistas do Brasil e do exterior pelo seu alto potencial de impactos. Trata-se do Complexo Convectivo de Mesoescala, ou, no jargão de nós meteorologistas, um CCM.

O que é um Complexo Convectivo de Mesoescala? Trata-se de um grande aglomerado circular e de longa duração de nuvens muito carregadas, de grande desenvolvimento vertical, que podem atingir de dez a vinte quilômetros de altura. Estes aglomerados são identificados a partir de imagens de satélite, e costumeiramente provocam chuva forte a intensa e tempestades. O nome complexo decorre do fato de serem muitas áreas de tempestade reunidas em um mesmo sistema e que podem provocar chuva volumosa e tempestades fortes a severas de vento e granizo, não raro com fenômenos mais extremos como tornados e microexplosões atmosféricas.

Como se formam estes CCMs? A MetSul explica que um número de tempestades individuais se desenvolve numa região onde as condições são favoráveis para convecção (movimento ascendente do ar). No estágio de formação, que é o mais perigoso e com maior propensão para as tempestades severas, vários núcleos de tempestade se fundem. Estes complexos convectivos ocorrem sob uma atmosfera quente e úmida, por isso é um fenômeno comum em meses da primavera e do verão enquanto no outono e no inverno são muito menos frequentes. Normalmente, ocorrem em dias muito quentes e com fortes abafamento. Normalmente, estes sistemas enormes de tempestade se formam no período noturno, especialmente a partir do fim da tarde e o começo da noite, e enfraquecem ou se dissipam no dia seguinte. Estudos mostram que o ciclo de vida de um CCM tem seu horário de máxima extensão durante a madrugada na grande maioria dos casos observados.

Muitos estudos afirmam que a presença de uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera tem papel fundamental na formação de CCMs nas latitudes médias da região subtropical da América do Sul. Estes corredores de vento trazem ar quente e úmido que geram as condições para a formação dos aglomerados de tempestade. Na noite de ontem, uma corrente de jato (vento forte) em baixos níveis da atmosfera, entre 1000 e 1500 metros de altitude, se estendia da Bolívia até o Noroeste gaúcho e trazia o ar muito quente e úmido da Amazônia que alimentou a formação explosiva da tempestade.

A atmosfera, ademais estava quente, com temperatura em 850 hPa (nível de 1.500 metros de altitude) de 19ºC no Noroeste gaúcho às 21h. A corrente de jato trazia o ar muito quente do Centro-Oeste, do Paraguai e da Bolívia, onde as máximas têm por dias excedido os 40ºC com uma excepcional e histórica onda de calor.

A ocorrência de CCMs já era antecipada pela MetSul há meses. “Espera-se, por exemplo, que ocorra com frequência maior do que o habitual um sistema típico da primavera que são os Complexos Convectivos de Mesoescala, aglomerados de nuvens muito carregadas que se formam com o calor úmido no Nordeste da Argentina e no Paraguai que avançam para o Mato Grosso do Sul e o Sul do Brasil”, informou a previsão da MetSul para a primavera publicada em 21 de setembro.

Em síntese, o que causou o violento temporal no Noroeste do Rio Grande do Sul foi um sistema comum de primavera e verão nas latitudes médias da América do Sul chamado de Complexo Convectivo de Mesoescala, que se caracteriza como um aglomerado de nuvens de tempestade, cuja formação costuma se dar à noite, sob atmosfera quente e úmida.