Após a notícia de que as vinícolas haviam se comprometido a pagar indenizações de R$ 7 milhões para reparar os danos de trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, o presidente da Salton, Maurício Salton, veio a público pela primeira vez falar sobre o ocorrido à imprensa. Até então, os pronunciamentos tinham sido feitos por meio de comunicados.
Para o jornal Valor, o dirigente afirmou:
— Sabemos do nosso dever, sabemos que temos um dever moral com essas pessoas. Sabemos que temos que reparar os danos. Colocamos nesse acordo (TAC) nossos compromissos para trabalhar em cima da cadeia produtiva. Também reiteramos nossa intenção e nosso compromisso para nos tornarmos uma empresa que promova práticas cada vez melhores e demonstre integridade.
Salton também frisou ao veículo que só soube da condição de trabalho dos safristas naquela quarta-feira em que o crime veio a público.
— Já tínhamos a decisão formada de rescindir o contrato com a Fênix, independentemente dos fatos ainda estarem sendo apurados, porque vimos que não condizia com a forma como trabalhamos — afirmou.
A vinícola iria para o terceiro ano de contrato com a empresa e nunca tinha suspeitado de nada, salientou Salton:
— Era uma empresa que atuava já há 10 anos em Bento Gonçalves. Mesmo sendo uma empresa de que tínhamos referências positivas, deveríamos ter sido mais diligentes no processo de contratação. Não é porque a empresa é de Bento que deveríamos ter confiado em sua boa fé. Deveríamos ter sido mais diligentes.
O dirigente também disse que não era feito um monitoramento em cadeia. A verificação era restrita apenas à etapa de diligência legal para contratação. Ou seja, se verificava se a empresa tinha capital suficiente e se cumpria o registro dos trabalhadores.
Agora, para que o caso não se repita, a companhia irá trabalhar em diversas frentes, como a de verificação dos alojamentos, alimentação, se os trabalhadores têm água fresca e se não estão trabalhando além do regime de horas legal, por exemplo.
— Vamos adotar compromissos de realizar auditorias junto a prestadores de serviço — garantiu.
Maurício Salton está desde maio de 2018 à frente do negócio.
Na última semana de fevereiro, mais de 200 safristas foram resgatados do local onde trabalhavam em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves. Além da Salton, a vinícola Aurora e a Cooperativa Vinícola Garibaldi também estavam envolvidas.
Os trabalhadores foram contratados pela terceirizada Fênix Serviços Administrativos para ajudar nas atividades do período de colheita de uvas Alojamentos precários e torturas foram alguns dos sofrimentos relatados pelas vítimas.
Postado por Paulo Marques