A coordenação do Comitê Gestor Estadual do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC+), junto à Emater e à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), visitou, no final de janeiro, produtores de três municípios da região central do Estado que utilizam o sistema silvipastoril. O objetivo foi avaliar e discutir o desempenho do sistema, que propicia a integração lavoura-pecuária-floresta, durante o período de seca. O trabalho de implementação é desenvolvido pela UFSM em parceria com a Embrapa e a Emater.
O Plano ABC+, da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), tem como meta promover a adaptação à mudança do clima e o controle das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) na agropecuária brasileira, com aumento da eficiência e resiliência dos sistemas produtivos.
“Estou salvando meu gado nesta seca”, comemora o produtor rural Laurindo Beling, de Agudo. Na propriedade de 59 hectares onde cria angus e planta soja, ele possui duas áreas de plantio de eucaliptos que totalizam 15 hectares. Segundo ele, as árvores protegem tanto do calor quanto do frio, com faixas de sombreamento.
Já a produtora Sandra Gomes Brum, de Tupanciretã, buscou a recuperação do solo e a presença de sombra para os animais nas duas áreas que tem com o sistema, as quais totalizam cinco hectares. “Nos dias muito quentes, vemos os animais se protegendo na sombra. E, no inverno, a floresta de acácia negra oferece proteção contra os ventos frios e a geada”, conta. Além dos animais, o pasto também fica protegido em ambas as situações. Sandra optou pelo plantio da acácia negra, que auxilia no aumento da matéria orgânica do solo e apresenta crescimento rápido.
O produtor de Barra do Ribeiro, Pedro Feijó, implantou o sistema silvipastoril há dois anos em uma área de sete hectares. “Acredito que não tenha mais volta depois desse sistema, pois o animal fica comendo na sombra, num lugar que traz benefícios para ele”, afirma.
propriedade Pedro Barra do Ribeiro sistema silvipastoril 1
Pastagens crescem, mesmo durante a estiagem, em função do sistema silvipastoril desenvolvido em propriedade de Barra do Ribeiro - Foto: Fernando Dias/Ascom Seapi
“É uma grande oportunidade para o produtor minimizar os efeitos da estiagem, porque se cria um microclima na parte do sub-bosque, que reduz em média oito graus a temperatura, trazendo bem-estar para os animais e alívio para a pastagem. Além disso, é um sistema com enorme potencial de sequestro de carbono devido à presença de árvores”, explica o engenheiro florestal Jackson Brilhante, coordenador do Comitê Gestor do Plano ABC+.
O professor do curso de Engenharia Florestal da UFSM, Jorge Farias, constata que “o que estamos observando é a perfeita harmonia de crescimento de árvores e de pastos, com ganhos para ambos. Verificamos o crescimento muito acima da média das árvores, além do aumento na qualidade da pastagem.” Segundo ele, “em 2023, quando estamos passando pelo terceiro ano de estiagem no Rio Grande do Sul, os produtores têm relatado que o pasto está menos degradado com o sistema silvipastoril.”
Para Farias, vários conceitos estão sendo revistos com a adoção do sistema. “A floresta não prejudica a pastagem, ela maximiza o uso do solo. Assim, o sistema garante um melhor fluxo de renda, e é possível a manutenção da pecuária mesmo durante a estiagem.”
Atualmente, a regional de Santa Maria da Emater atende 40 propriedades com o sistema silvipastoril. O primeiro município a implantá-lo foi Nova Esperança, em 2005. “Produtores rurais, técnicos e pesquisadores vêm observando a persistência da pastagem verde e seu crescimento, mesmo com muitos dias sem chuvas. O resultado é a reserva de forragem em pé para os animais se alimentarem e persistirem na produção de leite e engorda, inclusive durante períodos de crise como a vivida desde novembro de 2022”, destaca o engenheiro florestal da Emater, Gilmar Deponti. Além da Emater Santa Maria, outras 12 regionais vêm desenvolvendo trabalhos de incentivo à implantação do sistema.
“Os produtores que visitamos estão muito satisfeitos, pois o sistema, além de minimizar os impactos da estiagem na produção de leite e de carne, também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário gaúcho”, destaca Jackson. Segundo ele, o Estado deve incentivar a adoção do sistema como uma estratégia de médio e longo prazo para minimizar o impacto da estiagem na produção pecuária.