Referência para 17 municípios da região e em funcionamento há quase três anos, o Centro Especializado em Reabilitação Intelectual e Auditiva (CER II), mantido pela Apae de Três de Maio, realizou, no último ano, 26.598 atendimentos de saúde na área da reabilitação intelectual e auditiva via Sistema Único de Saúde (SUS). A informação é do coordenador do CER II, Leandro Steiger.
No centro atuam assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, psicólogas, médico neuropediatra, médico neurologista, médico clínico-geral, médico psiquiatra, médicos otorrinolaringologistas, terapeutas ocupacionais, técnica de enfermagem, jornalista, advogados, nutricionista, psicopedagoga e equipes administrativa e pedagógica.
Segundo o Relatório Mundial sobre a Deficiência da Organização Mundial da Saúde (OMS), a reabilitação é essencial para pessoas com deficiência a fim de torná-las capazes de participar da vida educacional, do mercado de trabalho e da vida civil. O conceito de reabilitação proposto pelo relatório engloba os aspectos que dizem respeito à deficiência, como a melhoria da funcionalidade individual, e também a intervenção no ambiente, como a instalação de barra de apoio no banheiro, por exemplo. Portanto, a reabilitação envolve a identificação dos problemas e necessidades da pessoa, a relação entre fatores relevantes do indivíduo e seu ambiente, a definição de metas, o planejamento, implantação de medidas e a avaliação de seus efeitos.
O paciente que chega ao CER II para avaliação vem encaminhado via sistema estadual de regulação. Durante o processo de avaliação, ele passa por todos os profissionais da saúde, sendo que cada profissional em sua área determina se ele precisa ou não de sua intervenção. Há casos em que o paciente não necessita de todas as áreas, ou inicialmente realize por um curto período de tempo e, havendo evolução, recebe alta da área em específico, permanecendo com as demais.
Conforme a psicóloga Carina Mayer Mirowski, que atua na Apae desde 2019, a equipe do CER II é uma equipe interdisciplinar, ou seja, há troca de informações entre os profissionais de todas as áreas para então depois ser tomada uma decisão de qual tratamento é mais adequado para cada caso.
“Isso é de extrema importância e acrescenta muito para o desenvolvimento do paciente, visto que todas as áreas desempenham um papel importantíssimo no que diz respeito aos atendimentos. Durante todo o tratamento e acompanhamento, a equipe constantemente troca informações sobre cada caso.”
Carina acrescenta que o primeiro contato realizado são as avaliações. No retorno delas, quando todas já foram concluídas e os profissionais podem dar uma devolutiva, o paciente e os cuidadores ficam sabendo quais os atendimentos irão precisar frequentar. “Existem casos em que o paciente não irá necessitar de algum atendimento em alguma área em razão de não apresentar atraso em relação a sua faixa etária. Também ocorre de durante o período dos atendimentos o paciente evoluir quanto ao seu atraso do primeiro contato da avaliação e ganhar ‘alta’ de alguma área em específico”, explica.
Conforme a psicóloga Carina, no último ano, o perfil dos pacientes que chegaram para avaliação no CER II foi, na maioria, com faixa etária de zero a dez anos, tanto meninos quanto meninas, que apresentam dificuldade de aprendizagem e/ou suspeita de autismo e atraso no desenvolvimento.
A profissional explica que, na área da psicologia, são utilizados métodos como estimulação cognitiva, bem como reconhecimento e utilização das emoções, autorregulação e autocontrole no que diz respeito a frustração, impulsividade e agressividade, orientação aos cuidadores, organização de rotina familiar, escolar e social e orientação ao ambiente escolar em que o paciente frequenta.
“Os atendimentos são realizados individualmente, exceto alguns casos em que necessitam a presença de algum familiar para acompanhar as orientações dos atendimentos. No caso da psicologia, os atendimentos são realizados de acordo com a demanda de cada paciente, ou seja, conforme cada dificuldade individual ou atraso para estimulação e estruturação do tratamento.”
A terapeuta ocupacional Marília Compassi Freitas, que atua na Apae de Três de Maio há 11 anos, revela que, após realizada avaliação, é traçado um plano terapêutico individual para cada paciente, a partir da necessidade de cada, com atendimentos realizados semanalmente.
Especificamente sobre os pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) atendidos no CER II no último ano, o número de pacientes é de aproximadamente 40. “Constatei que há a prevalência de pacientes do sexo masculino nos meus atendimentos, com faixa etária entre dois e 15 anos no último ano. Mas vale destacar que temos na instituição paciente de 30 anos com diagnóstico de TEA”, acrescenta.
Na área da terapia ocupacional, Marília conta que os objetivos principais das intervenções são o treino das Atividades de Vida Diária e das Habilidades Sociais e intervenção das disfunções sensoriais, sempre buscando a autonomia e independência do paciente.
Conforme Marília, o atendimento interdisciplinar é importante, pois os saberes são construídos em conjunto e os planos terapêuticos são traçados pelas diversas áreas da saúde, por meio de uma visão integral do paciente. “Sempre que possível, a equipe se reúne para trocar informações e traçar os objetivos do plano terapêutico do paciente. Este momento de troca é muito importante, pois em cada área pode haver uma percepção diferente do paciente, o que possibilita uma forma integrada de pensar e intervir com ele.
A fonoaudióloga Iasmim Kasprczak, que atua na Apae desde julho de 2021, diz que a maior parte dos pacientes que atende com diagnóstico de TEA são do sexo masculino, com idades entre três e seis anos.
Ela explica que cada especialidade realiza uma avaliação inicial, voltada para sua área de atuação. “Existem diferentes graus de TEA, da mesma forma que existem diferentes necessidades. Por este motivo, todos os pacientes são avaliados de maneira individual, e, sendo assim, possuem atendimento personalizado caso a caso.”
Segundo Iasmim, na fonoaudiologia são realizadas avaliação de linguagem oral, leitura e escrita, além de avaliação miofuncional orofacial (quando possível). “Nos atendimentos, trabalhamos aspectos nos quais os pacientes apresentam dificuldades, sempre de maneira lúdica, fazendo uso de brincadeiras, buscando melhora da comunicação através da pragmática, morfossintaxe, semântica e fonologia. Em alguns casos, cuja comunicação oral é demasiadamente difícil, também há a possibilidade de trabalharmos com comunicação alternativa.
Para ela, embora cada profissional atue na sua área de especialidade, os casos sempre são discutidos em equipe. Isso ocorre, conforme a fonoaudióloga, porque é necessário que a equipe esteja alinhada, trabalhando em conjunto, visando o melhor para cada caso. “O atendimento de uma equipe interdisciplinar aos pacientes com TEA busca tornar a vida deles o mais funcional e o mais próximo possível dos que apresentam desenvolvimento típico”, finaliza.
Desde abril de 2021, os gêmeos Henrique e Heitor Antonow, de 5 anos, vêm semanalmente até o CER II para atendimentos com psicóloga, terapeuta ocupacional e fonoaudióloga.
Eles foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando tinham dois anos e quatro meses. A mãe deles, Rosemara Antonow, conta que nos últimos meses percebeu avanços significativos nos filhos no que se refere à interação social, formação de frases e coordenação motora, como pegar e manusear lápis e tesoura.
“Os dois ainda apresentam atraso na fala, mas já evoluíram muito. À tarde, eles estudam em escola regular. Por isso, entendo que seja um conjunto de ações: Apae, família e escola. Noto que, por eles gostarem de vir aqui, e as profissionais me contam que eles fazem as atividades propostas, credito isso ao fato delas saberem conduzir de forma muito profissional os atendimentos. Elas entendem do TEA e são fundamentais para que os guris consigam evoluir e ter resultados. Só tenho a agradecer a esta instituição, porque este trabalho é essencial para o desenvolvimento e qualidade de vida deles”, diz Rosemara.
Natural de Santo Augusto, a família morava em Goiás quando os gêmeos nasceram. Rosemara revela que desconfiava que os dois eram autistas quando eles tinham um ano e meio de idade. “Porém, como a neuropediatra com quem consultamos lá na época descartou o diagnóstico naquele momento, esperamos.”
Então voltaram para o Sul, e quando os gêmeos estavam com dois anos, a mãe diz que continuava com a desconfiança. “Tivemos o diagnóstico de TEA quando eles tinham dois anos e quatro meses, enquanto morávamos em Jaguarão. Lá nos encaminharam para a Apae. Depois de todas as avaliações, eles tiveram um atendimento, pois na sequência nos mudamos para Pelotas. Naquela cidade, ficamos na fila para iniciar os atendimentos no Centro de Atendimento ao Autista, mas não conseguíamos, já que a procura era bastante grande”, complementa. Em busca de oferecer o melhor em terapia para eles, faziam os atendimentos para os filhos de forma particular enquanto não eram chamados.
E em dezembro de 2020, quando mudaram-se para Três de Maio, já que o marido de Rosemara já estava morando aqui, procuraram a Apae e rapidamente começaram os atendimentos. “Com certeza isso foi fundamental. No início, quando recebemos o diagnóstico de TEA, foi um baque, já que não conhecíamos sobre o transtorno. Estudamos e buscamos informações para conhecer e entender, além de procurar os atendimentos de saúde que são essenciais para o desenvolvimento deles. Estamos satisfeitos com o trabalho realizado aqui na Apae de Três de Maio”, agradece Rosemara.
Por Jaqueline Peripolli/Assessoria de Comunicação Apae Três de Maio