O número de pedidos de seguro-desemprego no Rio Grande do Sul apresentou queda nos cinco primeiros meses deste ano. De janeiro a maio, o total de requerimentos caiu 29,83% na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse auxílio é voltado para trabalhadores formais demitidos sem justa causa.
O Estado anotou 149.749 pedidos de seguro-desemprego nos cinco primeiros meses do ano, segundo dados do Ministério da Economia. O montante é 63.664 menor do que o volume registrado no mesmo intervalo do ano passado, marcado pelo avanço da pandemia de coronavírus no país. Em maio, foram 32.190 solicitações. No mesmo mês em 2020, esse indicador estava em 66.827 após os primeiros impactos mais severos da crise sanitária.
Neste ano, o volume de pedidos esteve em níveis menores em janeiro e fevereiro, subiu em março e abril, em meio ao recrudescimento da pandemia, e voltou a cair em maio.
Os números do seguro-desemprego, um dos últimos estágios após a demissão, costumam acompanhar o cenário de desligamentos e contratações. Neste ano, o Estado apresenta retomada na geração de emprego, com abertura de 82.134 postos. Nesse sentido, o movimento de pedidos acaba refletindo os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho, segundo o professor da Escola de Negócios da PUCRS Ely José de Mattos.
— Soma a burocracia com um período rescisório e sempre vai ter um delay de algumas semanas entre o que aconteceu de fato na economia e a repercussão disso no seguro-desemprego. Na entrada do pedido. É um alinhamento, ainda que com um atraso de dinâmica — explica Mattos.
O presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), Anderson Trautman Cardoso, também atribui o recuo nos pedidos à recuperação de vagas de emprego neste ano. Cardoso destaca que o protagonismo das contratações em relação às demissões ajuda a explicar a diminuição dos pedidos do auxílio.
— Nós reputamos esse movimento de queda no seguro-desemprego à retomada do emprego no Estado decorrente do movimento econômico, que já se acentua. O PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre foi significativo e a gente tem uma expectativa ainda pela frente — afirma o presidente da Federasul.
Cardoso afirma que programas do governo federal, como o Benefício Emergencial (BEm) e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) também são importantes nesse processo, mas têm efeito diferente neste ano. O volume menor de valores via Pronampe e o momento de menos incerteza na economia diminuem o efeito dessas medidas, segundo o presidente.
Fazendo uma radiografia nos dados do acumulado do ano no Estado, os setores de serviços e comércio lideram na participação de pedidos de seguro-desemprego (veja mais abaixo). Os dois segmentos estão entre os mais impactados pelo fechamento de atividades e diminuição da circulação diante do combate à pandemia de coronavírus.
O professor Ely José de Mattos afirma que a participação maior desses setores nos pedidos de auxílio é normal, pois ambos têm uma dinâmica maior no mercado de trabalho. Portanto, acabam sentindo mais rápido os movimentos de contratação e demissão.
— Nessa prestação de serviço mais direta, a dinâmica é mais rápida do ajuste. Tanto para cima quanto por baixo — salienta Mattos.
O presidente da Federasul projeta que os setores de serviços e comércio vão começar a avançar na geração de emprego no Estado. Cardoso atribui esse cenário ao avanço da vacinação, que permite maior circulação de pessoas.
— Agora, o comércio e os serviços começam a dar sua contribuição na retomada do PIB e, consequentemente, do emprego, por decorrência disso, de uma maior mobilidade.
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de maio, divulgados na semana passada, reforçam a avaliação do presidente da Federal. Serviços e comércio apresentaram os melhores resultados na abertura de vagas de emprego no Estado no mês, somando 7.986 postos.
Futuro depende do avanço da vacinação
O professor Ely José de Mattos afirma que a retomada da economia e da geração de emprego está associada ao avanço da vacinação no país. Com a imunização em níveis maiores, é possível pensar em um cenário com maior circulação de pessoas, segundo o economista. No entanto, o especialista afirma que algumas incertezas que ainda rondam a crise sanitária colocam um asterisco nessa estimativa.
— A gente tende a ver um pouco mais de movimento quando a vacinação chegar na faixa dos 30 anos. Entre 30 e 40 anos. Acho que a gente vai começar a ter uma repercussão maior. Até porque esperasse que isso reduza a transmissão do vírus. Mas não tem como garantir isso, até porque as novas variantes estão aí e a gente não sabe como isso vai se comportar. Mas tudo indica que vamos ter uma recuperação — estima Mattos.
O presidente da Federasul, Anderson Trautman Cardoso, também cita a imunização em escala maior como principal fator para a retomada econômica no país. O dirigente afirma que, com maior número de pessoas vacinadas, a confiança dos consumidores aumenta. Nesse cenário, é possível estimar crescimento na mobilidade e nas compras, segundo o presidente da Federasul. Cardoso estima recuperação no segundo semestre, mas cita que, além da vacinação, a inflação e o endividamento das famílias são pontos de atenção nesse processo:
— Tem outro aspecto que também preocupa ao lado da inflação, que é o contingente de famílias endividadas. Ele tem alcançado patamares bastante altos. Em torno de 70%, algo que não víamos nos últimos 10 anos. Então, tem esse potencial limitador desse desenvolvimento dessa retomada.
Postado por Paulo Marques