O número de mortes no trânsito do Rio Grande do Sul apresentou redução em 2020, ano marcado por mudanças de hábitos e de comportamentos diante do enfrentamento à pandemia de coronavírus. O total de vítimas que perderam a vida em acidentes em vias municipais, estaduais e federais caiu 9,6%, se comparado a 2019, recuando de 1.618 para 1.462, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS). Esse é o menor acumulado dentro da série histórica, que começou em 2007.
Colocando uma lupa sobre os dados é possível observar que o primeiro semestre do ano passado puxou a redução. Abril se destaca com o menor número de mortes para um mês dentro da série histórica, com 90 óbitos, redução de 33,82% em relação ao mesmo mês em 2019.
O engenheiro civil e doutor em Transportes da UFRGS João Fortini Albano avalia que esse percentual de redução é robusto. O especialista destaca e que o declínio no número de mortes no trânsito gaúcho segue uma tendência observada nos últimos anos, mas ganha o impulso das medidas de distanciamento adotadas durante a crise sanitária.
— Acho que a pandemia é o fator preponderante para provocar uma redução tão alta como 10%. Mas é um processo que está se consolidando com valor alto de multas e também com a conscientização maior dos condutores — afirma Albano.
A queda na mortalidade nas vias do Estado em 2020 também é superior à registrada em 2019, quando a retração foi de 3,17%.
O número de acidentes com morte também caiu no ano passado, passando de 1.472, em 2019, para 1.336. Colisão, atropelamento e colisão lateral lideram entre os tipos de acidentes com óbito. Automóvel, motos e motonetas e caminhão e caminhão trator ocupam o topo na lista de veículos envolvidos nas ocorrências.
Motociclistas e motoristas de caminhão
Entre as principais categorias de vítimas por tipo de veículo, pedestres, ciclistas, passageiros, condutores e caronas de moto apresentaram queda no número de mortos na comparação com o ano anterior. Por outro lado, o número motociclistas e motoristas de caminhão aumentou. Em nota, o diretor-geral do Detran-RS, Enio Bacci, lembra que essas duas categorias não pararam em nenhum momento durante a pandemia:
“Sua importância só aumentou no período de isolamento, quando a população começou a demandar mais telentrega e fazer compras pela internet. Precisamos pensar em políticas para proteger esses condutores, que são tão fundamentais para a sociedade”.
O engenheiro civil e doutor em Transportes da UFRGS concorda com a avaliação de aumento de demanda desses trabalhadores durante a crise sanitária, mas destaca que esse é apenas um dos fatores que ajudam a explicar a guinada na mortalidade nesses grupos.
— Quanto maior o número de veículos circulando nas vias, maior o grau de exposição e de acidentes. Agora, nunca é uma coisa só. Junta isso com imprudência, direção perigosa, excesso de velocidade, condição da pista, como piso molhado, tempo de entrega — observa Albano.
Postado por Paulo Marques