O total de multas por embriaguez no RS apresentou redução neste ano. O acumulado desse tipo de infração caiu 33,66% nos primeiros 11 meses de 2020, se comparado ao mesmo período de 2019. Em linhas gerais, os protocolos de segurança impostos pela pandemia de coronavírus explicam a retração fora da curva, segundo especialistas ouvidos pela reportagem de GZH.
De janeiro a novembro, 14.420 multas desse tipo foram anotadas ante 21.739, em 2019. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), que leva em conta dois artigos do Código Brasileiro de Trânsito (CTB). O primeiro prevê multa para o motorista que dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. O outro estipula sanção ao condutor que se recusar a ser submetido ao teste. Em 2020, até o momento, são 3.967 infrações por dirigir alcoolizado e 10.453 por recusar-se a procedimento para certificar a presença de álcool no organismo.
Fazendo um recorte desde 2015, o total de multas por embriaguez no trânsito também é o menor no RS. O levantamento mostra tímida oscilação entre os anos, principalmente até 2018, com quedas e elevações intercaladas.
Ao divulgar os dados, o Detran observa que, neste ano, em razão da pandemia, a fiscalização da embriaguez no RS foi restringida aos casos visíveis de sinais de embriaguez ou acidentes de trânsito.
O engenheiro civil e doutor em Transportes da UFRGS João Fortini Albano afirma que o comportamento dos motoristas durante a crise sanitária também ajuda a explicar o recuo acima da média:
— A maior parcela dessa redução acho que pode se atribuir à pandemia. As pessoas não têm saído. As pessoas estão evitando fazer os deslocamento. Se não faz o deslocamento, se não conduz o veículo, embriagado ou não embriagado, vai diminuir tudo.
Albano destaca que o aumento na fiscalização e o reforço nas campanhas e nas ações de educação do trânsito são ferramentas fundamentais para combater a embriaguez e aumentar a segurança.
Criadora do Vida Urgente: Fundação Thiago Gonzaga e diretora institucional do Detran, Diza Gonzaga afirma que essa mudança de abordagem, necessária em razão do coronavírus, tem grande influência na redução das multas. Diza avalia que a pandemia também acaba despertando maior valorização da vida, impactando em parte na diminuição das multas.
— As pessoas estão se ligando mais do quão importante é a vida, a saúde. A gente sabe que hoje a vida nunca esteve tão na "moda" — afirmou Diza.
Levantamento
Colocando uma lupa sobre o levantamento, em 2020, homens correspondem a 80,98% dos casos de multa por embriaguez no Rio Grande do Sul. Mulheres ficam com 5,84%. Os outros 13,18% são de não identificados — quando não há identificação do condutor na base de dados, como casos de motoristas não habilitados ou de autos de infração de trânsito com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de outro Estado.
No âmbito da faixa etária, os condutores com idades entre 21 e 25 anos lideram. Os motoristas de 18 anos estão na parte mais baixa do ranking.
Mudanças na abordagem a motoristas
O comandante do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), coronel José Henrique Gomes Botelho, afirma que as mudanças de protocolo causadas pela pandemia têm impacto significativo na fiscalização desse tipo de infração nas vias estaduais. Ele avalia que essa alteração na atuação é o principal motivo para a redução das infrações, pois o menor movimento nas estradas estaduais foi percebido, principalmente, nos primeiros dois meses de isolamento. Dali em diante, o fluxo voltou a patamares próximos do normal.
Reforçando o entendimento de que a menor testagem tem papel principal na diminuição das infrações, Botelho cita a diminuição do recolhimento de CNHs:
— Tivemos um acréscimo, de 2018 para 2019, de pouco mais de 50% nas carteiras de habilitação recolhidas por embriaguez. De 2019 para 2020, nós tivemos uma retração de em torno de 40%.
O superintendente-executivo da Polícia Rodoviária (PRF) no RS, Leandro Wachholz, afirma que o órgão não usa como indicador o número quantitativo de multas por embriaguez ou recusa ao teste de alcoolemia, mas o número de condutores fiscalizados. Ele destaca que, em razão da pandemia, a PRF busca equilíbrio na fiscalização para garantir a segurança dos usuários e dos agentes.
— Encontramos um meio termo que é fazer a fiscalização sempre que houver suspeita —explicou Wachholz.
Ele afirma que o número de fiscalizados diminui em razão da queda de circulação verificada em rodovias federais neste ano.
Mortes
O Detran divulgou, na semana passada, levantamento sobre a incidência do álcool nas mortes no trânsito no RS em 2019. O estudo mostra que 232 dos 624 condutores mortos naquele ano tinham álcool no sangue. Ou seja, 37% das vítimas que estavam na direção do veículo e perderam a vida estavam nessa condição.
Postado por Paulo Marques