O assassinato de Paula Perin Portes, 18 anos, foi encomendado e executado por um facção criminosa que atua em Soledade e tem base no Vale do Sinos. É o que aponta a força-tarefa criada pela Polícia Civil para elucidar o caso, no norte do Estado.
Após 67 dias de desaparecimento, o corpo da jovem foi localizado enterrado próximo a uma sanga em uma propriedade rural de Rincão do Bugre, um local de difícil acesso no interior do município. O corpo de Paula está sendo necropsiado na posto médico-legal de Soledade e exames complementares são realizados em Passo Fundo.
Segundo a delegada Fabiane Bittencourt, Paula era amiga da ex-mulher de um homem que é considerado o mandante do crime. Ele é uma das três pessoas já presas por suspeitas de envolvimento no desaparecido de Paula. De acordo com a delegada, é também líder do tráfico de drogas em Soledade.
— No meu entendimento, ele é o principal, quem decidiu matar e arquitetou. Desde antes de morar em Soledade, ela tinha contato com eles por ser amiga da ex-esposa. O crime tem total ligação com essa facção criminosa. Nossa tese é de que ela foi morta porque sabia de crimes de todos os envolvidos. Paula foi asfixiada. Os investigados teriam matado ela com um golpe de mata leão até que fosse a óbito. Isso deve ser confirmado pela necropsia. Não está descartada a participação de outras pessoas na ocultação do corpo — explica a delegada.
Para a polícia, o homem com quem Paula marcou encontro na noite de 10 de junho, Micael Willian Rossi Ortiz, 22 anos, foi usado para atrair a jovem para o local do crime. Ele segue foragido.
— Paula era melhor amiga dessa mulher, elas circulavam juntas. O que exatamente ela sabia, não sabemos. Mas os envolvidos são traficantes, isso é público e notório. Recentemente, estavam atuando no contrabando de cigarros, isso está comprovado no inquérito. Inclusive, existe a possibilidade da prática de crimes contra a vida que ela possa ter tido conhecimento — diz Fabiane.
A polícia ainda não revela detalhes de como chegou ao corpo de Paula no Rincão do Bugre. A jovem foi localizada à 0h30min desta segunda-feira (17), após todo o domingo (16) de buscas na região. Paula estava enterrada em uma uma localidade próxima à Margem São Bento, onde a polícia já havia usado cães e mergulhadores para tentar encontrá-la.
A investigação revelou que durante o trabalho da polícia o corpo de Paula foi trocado de lugar. No dia 4 de agosto, a bolsa da jovem foi encontrada em um açude nas margens da RS-332. Dentro do acessório estavam documentos, carregador de celular, maquiagem e duas pedras.
— Nenhum dos indiciados contribuiu para localizarmos o corpo. E este é um momento chave da investigação, tanto do ponto de vista da formação probatória, para fins de responsabilização, quanto no sentido de confirmar tudo que vinha sendo levantado na investigação. Só foi possível localizar o corpo, nesse tempo de investigação, porque ninguém descansou. Recebemos diversas denúncias, informações e praticamente tudo que chegou, fomos incansavelmente atrás. Sabíamos que o corpo estava na cidade e que estava muito próximo do local onde já tínhamos feito buscas.
Paula desapareceu na madrugada de 11 de junho após ir a um encontro com Micael em uma casa em Soledade. Segundo a polícia, na moradia onde esse encontro aconteceu, estavam Paula e mais cinco homens. Imagens de câmeras de segurança mostram quatro destes homens saíram com a jovem carregada. Micael está foragido. Três homens estão presos. A polícia trata o caso como homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Também investiga o delito de organização criminosa.
Em coletiva de imprensa no final da manhã desta segunda-feira, a delegada Fabiane disse que o foco da investigação da partir de agora é localizar Ortiz e identificar mais pessoas envolvidas na ocultação do cadáver de Paula:
— O foco do nosso trabalho é só ele. E vamos localiza-ló. Pouparia bastante trabalho se ele se apresentasse. Mas como acreditamos que ele não vai fazer, vamos focar nessa busca. Não encerramos as investigações.
Despedidas irão ocorrer em Fontoura Xavier
O velório de Paula vai ocorrer em Fontoura Xavier. Mãe da jovem, a doméstica Marisete Perin, 49 anos, afirma que, no começo das investigações, tinha esperança de que a filha fosse encontrada com vida:
— Me sinto aliviada por poder dar um velório decente a ela, mas não era o que queria. Queria receber ela viva, sempre tive essa esperança. O que fizeram com ela foi muito cruel, uma covardia. Era só uma menina.
Paula completou 18 anos em 7 de maio em Fontoura Xavier onde morava com a mãe, o padrasto e o irmão de 23 anos. A jovem dispensou festa, mas ganhou da mãe um celular novo, roupas, maquiagem e calçados. Um mês antes de desaparecer, foi morar com o pai em Soledade.
— Ela gostava de se vestir bem, se arrumar, tem muita roupa que ela nem usou. Já pensava em trabalhar, era uma guria do bem, não tinha envolvimento com tráfico. Uma menina sorridente e alegre, minha amiga e companheira. Agora, arrancaram ela de mim, fica o vazio e a angústia. Uma tristeza muito grande — descreve a mãe.
Postado por Paulo Marques