O Ministério da Saúde informou nesta terça-feira (21) que entre cem e 150 pessoas estão sendo monitoradas por terem tido contato com o paciente que morreu por febre hemorrágica brasileira, doença que não era registrada no país desde 1999.
Segundo a pasta, a medida ocorre como precaução. Entre o grupo, estão familiares e profissionais de saúde. Nenhum deles apresentou sintomas até o momento. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
A previsão é de que esse acompanhamento ocorra até o dia 3 de fevereiro, quando completam 21 dias desde o último contato com o paciente ou o material de exames.
Nesse período, serão adotadas medidas preventivas, mas sem necessidade de isolamento, o que só ocorrerá em caso de sintomas como febre, dor de cabeça ou muscular, informa o diretor do departamento de vigilância de doenças transmissíveis no ministério, Julio Croda.
O risco é considerado maior para profissionais de saúde que podem ter tido contato com secreções do paciente e material biológico e não tenham usado equipamentos de proteção. Nos demais, o risco é tido como baixo, mas ainda passível de monitoramento.
— Não existe risco para a população geral. O que existe é o alerta para os profissionais de saúde que atenderam o paciente ou manipularam alguma amostra, e que devem ser observados até 3 de fevereiro — diz Croda.
A confirmação de um novo caso de febre hemorrágica brasileira, após mais de 20 anos sem registros, foi divulgada nesta segunda-feira (20). O paciente tinha 50 anos e morava em Sorocaba, no interior de São Paulo, mas passou por diferentes cidades do Estado.
No dia 30 de dezembro, ele procurou a rede de saúde em Eldorado, com sintomas como dor de garganta, náuseas e dores musculares. O quadro evoluiu para outros sintomas, como febre alta, confusão mental e hemorragia. Durante o atendimento, o paciente passou por mais dois hospitais e morreu no dia 11 de janeiro.
Segundo Croda, o quadro chegou a ser analisado inicialmente como suspeito de febre amarela, mas exames descartaram a doença.
Similaridade com o vírus Sabiá
Análises feitas em laboratório do Hospital Albert Einstein apontaram para um arenavírus, com cerca de 90% de similaridade com o vírus Sabiá, o que aponta para uma variação do vírus que causa a febre hemorrágica brasileira.
A hipótese é que tenha havido uma série de mutações do vírus, daí a diferença em relação ao vírus original, que já havia sido identificado na década de 1990.
O modo de transmissão, porém, é considerado restrito. Em geral, esse tipo de vírus é transmitido após contato com partículas de poeira de urina e fezes de roedores contaminados, ou pelo contato com a secreção de pacientes.
— Nossa hipótese é que foi uma exposição ambiental a urina de roedores — afirma Croda, sobre o que pode ter levado à infecção do paciente.
Segundo o diretor, equipes de vigilância devem visitar os locais por onde passou o paciente em busca de possíveis indícios da contaminação, mas é baixa a probabilidade de que seja possível identificar quais os roedores que possuem o vírus.
A descoberta gerou um alerta na rede de saúde, por se tratar de um doença de alta letalidade e que não era registrada há mais de 20 anos. Apesar disso, a avaliação do ministério é de que se trata de um caso raro, pontual e de transmissão restrita.
Esse é o quarto caso de febre hemorrágica brasileira registrado no país. Outros dois foram registrados em São Paulo, ambos de pacientes que passaram por áreas silvestres, e um no Pará, por um técnico de laboratório que analisou amostras de um dos casos — daí o monitoramento daqueles que tiveram contato com o caso agora confirmado.
— Pela frequência de casos, entendemos que é um evento raro. Mais rara ainda é a transmissão de pessoa a pessoa, porque precisaria de contato com a secreção. Provavelmente não vamos ter grandes epidemias desse vírus se tivermos esse controle dos contactantes — diz o diretor do departamento de vigilância de doenças transmissíveis no ministério.
De acordo com Croda, por se tratar de um caso raro, não há um alerta específico à população sobre cuidados que devem ser adotados. A Secretaria de Saúde de São Paulo, porém, tem recomendado de forma geral que as pessoas evitem contato com roedores em áreas silvestres, medida que também ajudaria a evitar a transmissão de outras doenças.