A versão peruana da Operação Lava-Jato contou com a contribuição de um procurador da República gaúcho. Douglas Fischer, que atuou durante anos na operação, foi o responsável pelo envio a países sul-americanos da delação feita por 78 executivos da construtora Odebrecht. No acordo de colaboração constam indícios de crimes cometidos por diversos líderes políticos estrangeiros. Um deles era o ex-presidente peruano Alan Garcia, que se matou nesta quarta-feira (17) após receber uma ordem de prisão.
Fischer integrava o setor de Cooperação Internacional da Procuradoria Geral da República (PGR). A unidade é encarregada de repassar e coletar indícios de crimes que envolvam outros países. O foco do setor é combate à lavagem de dinheiro e à corrupção, temas centrais da Lava-Jato. Passam por ali os acordos de recuperação de dinheiro desviado de estatais, como a Petrobras, grande parte aplicada em bancos estrangeiros.
Para convencer autoridades estrangeiras de que é necessário devolver os valores "lavados" no Exterior, o compartilhamento de provas é fundamental. Isso inclui traduções de documentos inteiros. Foi assim, por exemplo, com os acordos de colaboração firmados com a PGR pelos 78 executivos da empreiteira Odebrecht. Todas as delações foram enviadas aos países onde a construtora, de acordo com os delatores, subornou em troca de prioridade nas obras. Entre eles, o Peru.
Entre as revelações repassadas por Fischer e seu colega Vladimir Aras à Fiscalía de La República — equivalente à Procuradoria da República do Peru — estão supostos aportes da Odebrecht à campanha vitoriosa de Alan García para a presidência do Peru, em 2006. Em troca, de acordo com os delatores, o político teria cometido tráfico de influência para ajudar a acelerar os projetos dos ramos 1 e 2 da Linha 1 do metrô em Lima, tocados pela empreiteira brasileira.
Outros indícios obtidos contra García no âmbito da Lava-Jato peruana:
— Registros do Palácio Presidencial e da agenda mostram que García se encontrou cinco vezes com Marcelo Odebrecht em seu segundo mandato. Ele dizia que tinha se reunido apenas uma vez com o CEO da Odebrecht.
— ONG presidida pela esposa de García recebeu contribuições da Odebrecht entre 2006 e 2010.
— Marcelo Odebrecht, interrogado por procuradores da República brasileiros, revela que as iniciais AG, na agenda de seu celular, se referem ao peruano Alan García.
—Dirigente da Odebrecht Marco Queiróz Grillo afirma, em interrogatório, que pagamento de US$ 100 mil a Alan García por conferência em maio de 2012 em São Paulo foi "fictícia".
—Um ex-secretário-geral da García recebeu mais de US$ 4 milhões da Odebrecht, que foram depositados na "offshore" Ammarin Investment Inc.
Encurralado pelas denúncias, García solicitou, em novembro de 2018, asilo diplomático ao Uruguai. O pedido lhe foi negado.
Ao ter a prisão preventiva anunciada, na manhã desta quarta-feira (17), o ex-presidente peruano se trancou num quarto e disparou um tiro contra a cabeça. Morreu em um hospital, após várias cirurgias de emergência.
Postado por Paulo Marques