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com ALEXANDRE DE SOUZA

Polícia

Os passos da investigação sobre desaparecimento de adolescente grávida no Noroeste

Os passos da investigação sobre desaparecimento de adolescente grávida no Noroeste
Garota tinha 14 anos e estava grávida de sete meses e meio quando sumiu (Cleber Eduardo Rossetto / Especial)
  • 08/09/2018 - 10:52
Em julho deste ano, o processo sobre o desaparecimento de Cintia Luana Ribeiro Moraes, ocorrido há sete anos em Três Passos, no Noroeste, foi arquivado na Justiça. O inquérito, encaminhado em agosto de 2014, continha 933 páginas, mas não conseguiu esclarecer se a adolescente foi vítima de crime. Ao longo dos anos, a polícia recebeu inúmeras denúncias sobre o caso. Parte delas apontava para o agricultor que a garota dizia ser o pai da bebê que esperava, outras indicavam que estaria viva. Os investigadores ouviram pessoas que afirmavam ter visto a garota na Argentina e chegaram a viajar ao país vizinho. 
A única pista que a polícia tinha no início era o encontro marcado por Luana com o pai da bebê. Casado, o agricultor, que tinha familiares no Paraguai, havia oferecido, no início da gravidez, dinheiro para que abortasse. No primeiro depoimento o rapaz negou ter estado com ela. Quatro dias depois, ao saber que a investigação tinha conseguido a quebra do sigilo telefônico de Luana, mudou a versão. Disse que entregou R$ 10 mil para que ela tivesse a filha em outra cidade porque não queria que sua mulher soubesse da be­bê. 
A mãe da adolescente, Ivone Ribeiro, tinha recebido mensagens após o desaparecimento nas quais a filha dizia ter saído em viagem com o agricultor. Ele alegou à polícia que ficou com o chip do celular dela para evitar que ela importunasse sua família. Acabou confessando que ele mesmo enviou as mensagens. Disse que pretendia tranquilizar a mãe de Luana. O homem contou ainda que se comprometeu a en­viar R$ 2 mil mensais até a criança completar um ano. Mas não soube informar qual o paradeiro dela. Garantia que às 19h30min havia deixado Luana perto da rodoviária. 
O rapaz chegou a ser submetido ao detector de mentiras. Em janeiro de 2012, o laudo apontou que o encontro que o entrevistado dizia ter tido com Luana "não aconteceu da forma narrada por ele". A família da adolescente não acredita na versão de que a jovem tenha recebido o dinheiro e fugido. 
— Ela viria correndo para casa. Não tinha motivo para ir embora. O sentimento é de injustiça — diz a irmã Loreni de Moraes. 
Buscas na Argentina 
A investigação passou por três delegados. Desde o início, a polícia recebia diferentes versões para o sumiço, recorda Willian Garcez, que apurou o caso por três meses. Em um parque de diversões, instalado no acesso à cidade, duas pessoas diziam ter visto Luana no dia seguinte ao sumiço. Outras negavam que fosse ela. A proximidade com a fronteira levou a polícia a suspeitar que a garota poderia ter fugido para o país vizinho. Para chegar até El Soberbio, no lado argentino, seria preciso percorrer 40 quilômetros de estrada e depois cruzar o Rio Uruguai de balsa ou em barco clandestino. 
Três meses depois do desaparecimento, quando a delegada Caroline Bamberg Machado assumiu a investiga­ção, após a licença-maternidade, a polícia seguia recebendo muitas informações sobre o que poderia ter ocorrido com a garota. Até cartas, com informações anônimas, chegavam à delegacia. Outros possíveis suspeitos foram investigados, entre eles um comerciante com quem a adolescente também teria mantido relacionamento. A polícia apreendeu veículos e periciou casas. Nada foi achado. 
Em junho de 2012, outra possível pista levou a delegada a viajar até Colonia Aurora e El Soberbio. Acompanhada de três policiais, buscou por um argentino que já havia relatado a brigadianos ter passado uma noite com uma brasileira que poderia ser a jovem. Ele contou que esteve com uma Luana, de 14 ou 15 anos, em um baile no interior em 26 de dezembro de 2011. O rapaz reconheceu a garota pela foto, mas disse que ela era loira e não teria falado sobre ter uma criança. Contou que ela disse ter fugido por desentendimentos com a família e estaria morando em Vila Faina, na fronteira com o Brasil. 
Os policiais seguiram até a localidade, onde falaram com moradores. A jovem descrita pelo rapaz não foi encontrada. Quando retornavam, de balsa, os policiais ouviram outro argentino, que jurava que a moça mantinha um caso com um político de El Soberbio. Nada foi confirmado. Por três anos, a polícia fez diligências em cidades onde havia informações de que a jovem poderia estar. 
Sem indiciamentos
A delegada Caroline acabou por concluir o inquérito sem indiciamentos. Para a policial, não havia elementos para comprovar que Luana foi vítima de crime.  Sobre o pai da bebê, a delegada entende que, apesar de terem recebido denúncias de que ele estaria envolvido no desaparecimento, não foi possível provar isso ao longo do inquérito. 
— Não encontramos corpo, fizemos pe­rícias com luminol na casa e nos carros de suspeitos, não encontramos nada. Fizemos incontáveis diligências. Não ha­via testemunhas. Só o fato de ela ter ido se encontrar com alguém e não ter voltado — afirma. 
Até hoje a delegada convive com a dúvida sobre o que aconteceu com a adolescente. Questionada se acredita que ela esteja viva, prefere não sentenciar nada. 
— É muito difícil dizer algo. Ficou essa incógnita, infelizmente — afirma. 
Em junho de 2015, Marion Volino assumiu a delegacia, e naquele ano, mesmo com o inquérito concluído, ouviu nova testemunha que afirmava ter visto Luana na Argentina. As informações foram repassadas à polícia estrangeira para que fizesse buscas. Outra vez, sem sucesso. 
— A gente só reabre a investigação se surgir algo de concreto — diz o delegado.
Postado por Paulo Marques
Fonte: Ga