A presença violenta de uma facção em cidades do interior do Rio Grande do Sul é alvo de operação da Polícia Civil na manhã desta terça-feira (24). São cumpridos mais de 100 mandados de prisão e de busca em 22 cidades gaúchas e uma catarinense. A ação pretende atingir os elos deste grupo especialmente na Região Noroeste, onde a polícia vem percebendo o aumento do tráfico de drogas e da violência empregada pelos criminosos. Até as 7h45min, 45 pessoas haviam sido presas.
A Operação Android foi desencadeada a partir de uma força-tarefa, coordenada pela Delegacia Regional de Três Passos, que tenta desmantelar ações relacionadas ao tráfico de drogas e outros crimes, como homicídios e roubos, praticados por integrantes da facção Os Manos, com sede no Vale do Sinos.
Cerca de 200 policiais civis, com o apoio de 100 policiais militares e 15 policiais rodoviários federais, participam da operação, que conta com o apoio do helicóptero da Polícia Civil. Estão sendo cumpridas 105 ordens judiciais, sendo 44 mandados de prisão e 61 de busca e apreensão.
Na Região Noroeste e na Região Norte está concentrada a maior parte das cidades onde são cumpridos mandados, 15 no total: Santo Augusto, Coronel Bicaco, Redentora, Campo Novo, Tenente Portela, Três Passos, Crissiumal, Independência, Palmeira das Missões, São José do Inhacorá, Três de Maio, Ijuí, Passo Fundo, Carazinho e Lagoa Vermelha. Os policiais também fazem buscas em Dois Irmãos, Campo Bom e Novo Hamburgo, no Vale do Sinos; Lajeado, no Vale do Taquari; Santiago, na Região Central; Charqueadas, na Região Carbonífera; Montenegro, no Vale do Caí; e São José, em Santa Catarina.
Segundo o chefe da Polícia Civil, Emerson Wendt, os comandos para esses delitos vêm sendo ordenados pelos principais líderes da facção do interior de presídios. Por isso, são cumpridos mandados de prisão preventiva em quatro casas prisionais do Estado. Os nomes das cadeias também são mantidos em sigilo até o momento.
Ao longo das investigações, a polícia apurou que esses líderes, de forma estruturada e hierarquizada, vinham gerenciando todas as cadeias do comércio de drogas em cidades do Interior, como transporte, fracionamento e entrega para gerentes regionais e locais.
— Os principais alvos dessa operação são justamente esses líderes, que fazem o controle das ações criminosas de forma rígida de dentro das cadeias, e os gerentes regionais e locais —explicou Wendt.
Os gerentes regionais eram responsáveis por receber e distribuir a droga vinda do Vale do Sinos para os traficantes que coordenavam o tráfico local na Região Noroeste.
Homicídios, pichações e rota alternativa para drogas e armas
A presença da facção, segundo a Polícia Civil, gerou disputa de territórios do tráfico e ajustes de contas entre criminosos, que acabaram impactando na violência nessas cidades. Entre os municípios alvos da operação estão cidades com cerca de 2 mil habitantes.
— Esses crimes não eram comuns nessa região e, quando começaram a ocorrer com maior incidência, percebemos que havia algum problema — afirmou o chefe da Polícia Civil.
Nos municípios da Região Noroeste onde são cumpridas as ordens, pelo menos 11 homicídios teriam sido cometidos ao longo de um ano por ordem do grupo criminoso. Um deles aconteceu na Argentina. Ainda conforme a investigação, roubos registrados nestas cidades, que não eram frequentes até então, foram atribuídos aos membros da facção.
Nestes municípios, a polícia também percebeu que a facção passou a pichar muros, residências e postes com os números 14, 18, 12 , que representam as inicias da facção no alfabeto (OSM). Para Wendt, a região é estratégica para o grupo criminoso, já que está próxima da fronteira com a Argentina.
— Esses grupos procuram rotas alternativas para poder fazer o transporte de drogas e armas — disse Wendt.
A apuração
As investigações iniciaram em julho de 2017 e, desde então, 55 pessoas foram presas e sete adolescentes apreendidos, principalmente na Região Noroeste e no Vale do Sinos.
Neste período, foram capturados responsáveis pelo transporte das drogas do Vale dos Sinos e suspeitos de serem responsáveis por execuções a mando da facção. Foram apreendidos desde julho de 2017 cerca de 180 quilos de drogas. A operação recebeu o nome de Android por conta do trabalho de inteligência de dados realizado ao longo das investigações.