Com os cabelos brancos e segurando uma bengala, Ghibaudo Orestes caminha lentamente pelo altar da Paróquia Nossa Senhora da Consolata, na 913 norte. Apesar da aparência frágil, as rugas que os anos trouxeram não chegam a revelar os 100 anos recém-completados. Nascido em 31 de janeiro de 1918, na província de Cuneo, região de Piemonte, na Itália, o religioso recebeu a ordenação sacerdotal aos 29 anos, quando deu início à sua extensa trajetória.
Sorridente, o padre conta que desembarcou no Brasil em 1951, como missionário. A primeira morada foi na capital de Roraima, Boa Vista, onde começou a trabalhar no meio educacional e com os jovens. Na cidade, foi um dos fundadores da Escola Euclides da Cunha. “À época, era o diretor. Mas tive de perder, graças a Deus, a minha cidadania italiana”, brinca. “Para poder trabalhar na educação, tinha que ser brasileiro e, naquele tempo, não se podia ter dupla cidadania. Não me arrependi da minha escolha e não é agora que vou me arrepender”, completa.
Pouco depois, no ano de 1954, foi para Três de Maio, no interior do Rio Grande do Sul. Na região, continuou o labor sacerdotal, além de se tornar diretor educacional do Ginásio Pio XII (atual Instituto Estadual de Educação Cardeal Pacelli), cuja responsabilidade, naquela época, era do Instituto Missões Consolata (IMC).
“Como havia me tornado brasileiro e com atuação na rede pública, me mandaram (a arquidiocese, por ordem do Vaticano) para Brasília, em 1986. Só que para resolver o problema do (antigo) Colégio Paulo VI”, relembra Ghibaudo Orestes. A instituição de ensino, posteriormente, tornou-se Colégio JK, e o padre prosseguiu no corpo docente. Atualmente, no local, funciona o Alub.
Desde sua chegada à capital federal, o sacerdote conserva amizades como a de Roberto Tenório, 71 anos, que acompanhou de perto os serviços prestados pelo religioso. “Ele tem um trabalho belíssimo com os jovens, que é sua grande dedicação. Foi diretor do Encontro de Jovens com Cristo —Segue-me, tornando-se o coordenador espiritual do movimento, que cresceu em nível nacional”, explica.
Ghibaudo Orestes permanece entre os jovens, ainda que com a idade bem avançada. “É claro que eu não estou mais à altura para o chamamento da juventude. Mas o que eu faço é sentar e conversar, tornar a juventude feliz”, salienta.
Carisma é uma palavra que descreve o padre Ghibaudo Orestes, de acordo com amigos e companheiros de paróquia. Visto como uma pessoa muito alegre, mesmo aos 100 anos, continua influente entre os mais novos, que o apelidaram carinhosamente de “Padreco”.
Para o secretário paroquial Julio Cesar Bacelar, 29 anos, Orestes é uma figura de grande importância. “O padre é um missionário que ofertou a vida para a missão do evangelho. Sua grande paixão são os jovens, é como uma esperança para ele. É uma referência entre eles, sobretudo, no Segue-me, que o tem como um padrinho. Tudo por conta da carisma”, destaca.
Uma das paixões do padre Orestes é a música. O religioso toca piano e, atualmente, tenta aprender violão. “A música foi feita para expressar o que se tem dentro. Evidentemente, não existe música sem uma palpitação de um coração com amor”, descreve o religioso.
“A música é algo de que ele realmente gosta. As missas dele acabam sendo mais cantadas, porque puxa os versos. O padre é muito animado, uma pessoa realmente abençoada por Deus”, acrescenta Roberto Tenório.
O advogado Gabriel Carvalho, 27, também vê o padre como um grande entusiasta. “Ele está sempre muito alegre, embora tenha passado por momentos difíceis. Gosta de contar piada e de ser chamado de ‘Padreco’. Ele próprio diz que é um velhinho. Esse é o jeito dele”, ressalta.
Segundo o padre, não é muito difícil chegar aos 100 anos com saúde. “É ter uma comunidade, um apoio. O amor é o que eu preciso para viver”, conta.
Dos céus, a proteção parece cobrir a vida de Ghibaudo Orestes. Nos últimos dez anos, o padre venceu um câncer na garganta, um tombo — que o deixou na cadeira de rodas por alguns meses —, e um acidente, quando parte do teto despencou em cima do religioso e o deixou machucado. Nada conseguiu derrubar a luz e a alegria que o missionário emana. “Quero quantos anos mais tiverem de vir, só não quero o peso que vem com eles”, diz, entre risos.
Mansamente, aponta os quatro lemas de vida, que também são passados aos fiéis: “felicidade, amor, compreensão e perdão”. A partir do significado dessas palavras é que o religioso leva seus dias, buscando alegrar o próximo. “A minha felicidade depende do outro. Eu sou feliz à medida que faço o próximo feliz também. Por isso, tento preencher o meu tempo fazendo os outros felizes”, afirma.