Foi desencadeada pelo Departamento de Combate ao Narcotráfico (Denarc), na manhã desta quarta-feira (29), a Operação Blindado, como resultado de nove meses de investigações contra grupos de WhatsApp transformados em verdadeiras feiras livres de armas. Foram cumpridos 20 mandados de busca e 12 mandados de prisão temporária, com oito presos, na ação, que é considerada a 11ª etapa da investigação. No total, 36 armas foram apreendidas — entre elas, um fuzil e duas submetralhadoras. Ao todo, 49 pessoas foram presas e devem ser indiciadas por porte ou posse de armas.
Conforme a investigação, pelo aplicativo, eram negociadas desde garruchas até fuzis, com valores variando entre R$ 1 mil e R$ 20 mil. Deveria ser o desdobramento da Operação Arcano, que prendeu sete pessoas em setembro, mas chamou a atenção dos investigadores que as negociações não se limitavam a criminosos vinculados a facções ou quadrilhas.
— Detectamos que pessoas comuns, sem nenhum histórico criminal, entravam nos grupos para vender suas armas, ou, eventualmente, se armarem, julgando que assim estariam livres de punição — afirma o diretor de investigações do Denarc, delegado Mario Souza.
Os interessados em vender ou comprar armamentos entrariam nos grupos, na maioria das vezes, convidados por amigos. Pelo menos 200 grupos foram monitorados pela polícia, com envolvimento de pessoas em 26 municípios gaúchos, em praticamente todas as regiões, e em cidades de São Paulo e Pará. Os dados coletados na investigação em relação a esses Estados serão repassados às polícias locais.
— Como não era uma quadrilha organizada e centralizada, geralmente os contatos entre os negociantes eram mais regionalizados. Por isso, optamos por desencadear a operação por etapas em cada região do Rio Grande do Sul, desarticulando por partes o esquema — explica o delegado.
Nesta quarta, foi a vez da etapa de Porto Alegre. Uma espingarda calibre 22 foi apreendida durante os cumprimentos de mandados, no bairro Glória. Mas o cumprimento de mandados não se limitou à Capital. Pelo menos um alvo tem prisão decretada dentro do Presídio de Montenegro. Buscas também foram cumpridas no local em busca de armamentos.
A investigação constatou que, de dentro da cadeia, presidiários negociavam e faziam cotações de armas, supostamente, de fora da cadeia.
Militar preso
Os grupos de WhatsApp podem ter se tornado um meio alternativo para agentes com direito a porte de arma negociarem ilegalmente. Foi assim que um cabo do Exército foi preso em uma das etapas da operação, em Sapiranga.
Com o apoio da Polícia do Exército, ele foi preso pelos agentes do Denarc quando tentava negociar um revólver calibre 32 com um preço inicial de R$ 1,5 mil.
— Funcionava como uma feira mesmo. O preço variando conforme a procura. Começavam com R$ 2 mil por um revólver, por exemplo. Preços acima do usual que entravam em negociação. Um fuzil, era negociado a R$ 20 mil. Armas com numeração raspada, por exemplo, que são vistas como "sujas", tinham preço menor. Justamente para serem liquidadas rapidamente — explica o delegado Mario Souza.
No Litoral Norte, a ação policial prendeu dois vigilantes de uma empresa local. Eles negociavam um revólver e uma pistola.
Conforme Souza, a característica dos armamentos colocados a venda nos grupos do aplicativo variam conforme a região. Nas áreas de fronteira, por exemplo, munições e garruchas são as mais comuns. Já na Região Metropolitana, as pistolas lideram a oferta e procura na feira livre.
Postado por Paulo Marques